sexta-feira, 2 de novembro de 2018

UMA PÁGINA PARA MANUELA



Hoje é, ao menos para mim, um feriado estranho, triste. Não é daqueles que a gente fica feliz por ficar em casa por não ter que trabalhar ou estudar. Por ser Dia de Finados, é inevitável não se lembrar de amigos, parentes ou, até mesmo, de artistas que admiramos que já se foram. A gente sempre lida com essas lembranças no decorrer do ano, mas nesse 02 de novembro, estas mesmas lembranças chegam até nós com mais intensidade e força. E tristeza. E comigo não é diferente. Bate uma saudade repleta de lembranças dos momentos que tivemos e dos que poderíamos ter.
Já perdi gente que foi vítima da violência, do suicídio (uma por afogamento, outro por enforcamento), do câncer... A primeira vez que senti este baque, este sentimento ruim que é perder alguém pra morte foi muito cedo, já na infância. Eu só tinha 12 anos de vida. A primeira perda de outras que viriam.
Certamente, ela está num lugar melhor que esse. Nunca a esqueci. Lembro da nossa última conversa no portão da minha casa. Ela passou a mão no meu queixo antes de ir embora, ao mesmo tempo em que dizia que na volta de um aniversário continuaríamos a conversa. Mas ela nunca mais voltou...
Lembro com carinho e saudade das nossas idas e vindas ao colégio com o meu casal de irmãos mais novos que eu. A gente tava sempre junto e ela vivia lá em casa, na calçada da minha casa brincando com a gente. Lembro-me também da risada inconfundível dela e do modo de rir de tudo que achava engraçado. Como ela ria de quase tudo e tudo pra ela era engraçado, ela estava sempre gargalhando, às vezes alto, sem a menor cerimônia. Não podia ver alguém comendo algo que pedia um pedaço, o que fez um menino comparar ela com a Magali, da Turma da Mônica. Uma noite estávamos sentados na escada que tinha na calçada da minha casa. Eu e ela mais embaixo e o meu casal de irmãos, mais em cima. Do nada, enquanto conversávamos, percebi uma irritação incontrolável no meu corpo, na parte da cintura pra baixo. Eu sentei onde tinha umas formigas e elas entraram pela minha roupa e começaram a me picar. Várias ao mesmo tempo. Eu, desesperado, comecei a fazer aquilo que qualquer um faria: Levantar e tirar de forma brusca do jeito que dava. Não deu outra: Manuela começou a rir alto da cena engraçada. Rir, não. Gargalhar alto. Eu, claro, fiquei morrendo de vergonha por protagonizar essa cena na frente de uma menina. Mas, depois de uns anos pensava nessa cena e começava a rir por dentro, com a gargalhada dela no meu pensamento.
Quase dois anos depois de sua morte, escrevi meu primeiro poema que falava dessa perda que nós da Rua Dois tivemos. Como nessa época eu só fazia músicas, não gostei muito e nem sei se aquilo era mesmo um poema. Escrever poemas pra mim era algo inalcançável, praticamente impossível. Só tinha uma cópia e acho difícil encontrar ele em algum lugar, mas lembro vagamente de alguns versos e o título era O Pesadelo Que O Destino Nos Deu. Realmente. A morte é um pesadelo que a gente tem acordado quando perdemos alguém que amamos.
Depois que terminei o Ensino Médio e comecei realmente a escrever poemas com cara de poemas, “Manuela” foi um dos primeiros que escrevi. Eu voltei no tempo e escrevi aqueles versos como se eu tivesse 12 anos e tivesse acabado de perdê-la. Ele tem um ar de ingenuidade que me encanta. Mostrei pra uma das minhas irmãs e lembro-me dela boquiaberta lendo no meu caderno várias vezes. Ela acabava de ler e lia de novo. Achei que ela não ia devolver meu caderno nunca. Ali eu percebi que ela gostou do poema e se sentiu tocada. Que eu me lembre ela só devolveu e não me disse nada. Mas, se disse, foi algo do tipo: “Gostei.” ou “Tá bonito.” Mas aquela cara de encantamento ainda permaneceu nela, mesmo depois da devolução do meu caderno. Depois que escrevi o poema que tem o nome dela como título e que antes tinha o nome “Não Sei.”, último verso do poema, escrevi mais um, um tempo depois intitulado “Brincadeira Interrompida”, onde em algum momento da narrativa fala dessa característica dela de estar sempre gargalhando e das nossas brincadeiras, como a de jogar bola na calçada da minha casa e da vizinha que mora ao lado esquerdo de mim. Éramos só nós dois e uma bola.Como futebol não era bem o seu forte, a brincadeira
consistia em apenas ela tentar tirar a bola dos meus pés. Eu ficava driblando ela da ponta de uma calçada pra outra.
 Manuela nasceu no dia 10 de outubro, mesmo dia que meu irmão mais novo nasceu e era apenas um ano mais nova que eu. Dois dias depois era o Dia das Crianças. Foi estranho ela não tá junto com a gente naquela dia, que era o nosso dia. Foi num fim de semana que ela morreu afogada. No primeiro dia de aula depois dessa tragédia, eu tava sem o menor clima de ir pro colégio, mas fui. Dali em diante não teria mais sua companhia. Eu pedi pra direção cancelar as aulas. Eles concordaram e uma galera, muitos que nem a conheciam, foram até a casa dela. Era um velório sem a presença dela, já que o seu corpo ainda não tinha sido encontrado. Alguns estavam fazendo pouco caso da dor de quem a conhecia e não estavam nem aí. Estavam mais preocupados em colher fruta do pé da casa dela. Ver aquela cena me deu raiva. Quanta insensibilidade. Durante uma semana, eu acho, tinha reza na casa dela com todos nós, seus amigos. Era difícil, mas eu queria pôr na minha cabeça a esperança de saber que ela estava viva em algum lugar. Numa dessas noites que tinha reza, chegou uma parente dela de longe, de outra cidade e ao ver a mãe de Manuela, elas se abraçaram e começaram a chorar juntas. Ao ver aquela cena triste na minha frente, meu coração se partiu e eu não consegui não chorar.
Depois de um tempo, após eu escrever o poema que leva seu nome como título, eu tive um sonho com ela. O único. Eu aceitei esse sonho como uma resposta dela pro meu poema, que em alguns versos se perguntava se ela estaria bem ou se ela leu o meu poema.  No sonho ela não dizia nada. Só sorria pra mim. Como na única foto que tenho dela. Era um lugar alegre, cheio de crianças correndo, brincando. Foi um sonho rápido. Acordei feliz por vê-la feliz, mas ao mesmo tempo achei aquilo tudo meio surreal. Ela bem que podia voltar em outros sonhos.


Brasilino Júnnior, 02 de novembro de 2018




“Guardo um retrato teu
E a saudade mais bonita.”

(Legião Urbana)

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

QUASE CHOREI

  Olhando umas fotos minhas, encontrei uma de quando eu era apenas um bebê. Fiquei por minutos olhando pra mim. E eu quase chorei de emoção. Não me pergunte o porquê, porque eu não saberia responder. Pelo menos, não agora.

Já olhei essa fotografia várias vezes e nunca me senti como hoje! Ela faz parte do álbum da família que minha mãe conserva. Acho que foi até ela que fez o papel de fotógrafa.

  Um dia passando pela sala, me deparei com ela dando bobeira. Achei estranho vê-la avulsa e distante das demais. Mas, ao invés de levá-la de volta ao seu lugar, eu a peguei e guardei nas minhas coisas. Isso deve ter sido há seis anos.

  Eu era um bebê bonito, bem diferente do que sou hoje. Aquela criancinha não lembra nada do que eu me tornei. Eu olho e reolho aquele retrato e procuro me achar em alguma coisa, mas não vejo nada que me retrata. Eu era bonito como todos os bebês de “cara de joelho” são. Ponto. Careca, bochechudo… Não, retiro o que eu escrevi: acabei de encontrar algo ali que eu ainda tenho: a tonalidade preta da cor dos meus olhos!

  Na época que foi tirada, eu tinha 1 ano e 7 meses de vida. Era outubro. Como agora. Mas eu era criança e hoje eu não sou mais. Eu precisava dos outros para andar e hoje eu ando sozinho, sem o auxílio dos demais. Não sabia falar e hoje eu falo até mais do que eu deveria, admito. Eu tinha poucos fios na cabeça e hoje eu tenho tantos que uso tranças.

  O local da foto escolhido foi o quintal de casa. Como a minha infância, ele não existe mais. E das lembranças boas que guardo no coração, o quintal da minha casa está entre os primeiros lugares das minhas recordações infantis. Na foto, as plantas completam o cenário do lugar.

 Colocaram-me numa cadeira de ferro meio branca e meio enferrujada e estou sentado em cima de um tecido branco, que poderia ser um lençol pequeno. Até por conta da pouca idade, estou levemente torto. A cabeça teima em ir pra direita. Devem ter me ajeitado várias vezes pra eu sair de cabeça erguida, mas não teve jeito. E o meu olhar? Ao mesmo tempo em que eu olhava pra frente eu não olhava para as lentes fotográficas! Devem ter gritado pelo meu nome várias vezes pra eu olhar pra frente, mas não teve jeito.

  Uma coisa que eu acho estilosa são as minhas meias: eram cinzas e tinham listras negras e brancas. Mas o meu macacão eu odiei, quer dizer, eu odeio. Nada a ver me vestirem com um cor-de-rosa! O azul, minha cor preferida, me cairia melhor. Mas talvez fosse presente de alguém que esperasse que minha mãe tivesse uma menina. Até hoje eu gosto do azul. Até hoje eu não uso cor-de-rosa. Mas, recentemente ganhei uma bermuda que tem essa cor e então eu uso, afinal, presente é presente.

   Falando em presentes, nessa fase eu deveria ser bem mais lembrado. Hoje, nem em aniversários. No máximo, de algumas pessoas, uma mensagem numa rede social ou no celular…

   Acho que sei por que eu quase chorei. Eu quase chorei porque eu tinha tudo a meu dispor: quintal, plantas, dia das crianças, presentes, pessoas me chamando pelo nome, choro… Hoje eu não tenho nem lágrimas suficientes para chorar… Peço para alguém me fotografar no celular…




05 de outubro de 2014, 07:28 pm
Brasilino Júnnior

sábado, 19 de julho de 2014

ADEUS, RUBEM...

   Queria que se tratasse de uma mentira. Mas não é... É sempre triste dizer "adeus" a quem nunca queremos dizer nem ao menos um "tchau".
Rubem era meu amigo, embora ele nem soubesse da minha humilde existência. O conheci numa noite do dia 14 de setembro de 2006 em uma livraria e o trouxe para conhecer minha casa. Eu dei você a mim de presente justamente poucas horas antes do seu aniversário! Desde então, Rubem dialogava comigo através da sua fala escrita ou verbalizada.
   Estou perdendo hoje um amigo escritor. E justo neste mês de julho, onde comemoramos o Dia do Amigo e o Dia do Escritor. Aliás, vinha esperando com ansiedade esta última data para homenageá-lo. Farei a homenagem assim mesmo. Mesmo que ele não possa saber e que outros possam me chamar de oportunista. Não ligo. Em meio a esta dor não ouvirei  insulto, elogio ou qualquer outra coisa que me digam. Só escutarei a voz sábia de Rubem, que quando falava, a minha se calava. 
  Quando eu nem pensava em escrever, o que quer que fosse, Rubem já era Rubem. Eu fui um dos seus últimos amigos que ele fez, mas aproveitei ao máximo a sua doce e poética companhia. Ele sempre tinha algo a ensinar e eu, disposição para aprender.
  No fundo a gente sabe que essa hora vai chegar, mas fingimos que não. Ah Rubem, como sentirei saudades de você, cara! Você estava na minha lista dos melhores e ninguém vai conseguir te tirar deste seu lugar. Suas palavras eram tão suas e, ao mesmo tempo, tão minhas. Mesmo que algumas delas tenham sido ditas antes da minha chegada a este mundo do qual você se despede.
   Você escreveu tantos livros, mas eu vou sempre amar com o mesmo amor aquele intitulado Se eu pudesse viver minha vida novamente...  Quanta genialidade! Quanta simplicidade! Sempre que o relia sentia uma admiração a mais por ti. E não faz muito tempo que fiz isso pela última vez. Mês passado, para ser mais exato. Rubem, desculpa o palavrão, mas você era  f***! E é desta forma meio feia que termino este texto que não tem fim, porque a saudade que já sinto de ti não terá também um final.



                    Brasilino Júnnior, 19 de julho de 2014, 08: 31 pm






"Uma vez escrevi uma crônica sobre um amigo muito querido que morrera. Muitas pessoas ficaram tristes comigo pela morte do meu amigo. Mas uma delas me disse: 'Choro, não pela morte do seu amigo. Choro porque sei que não chorarei como você chorou pela morte de nenhum dos meus amigos...' "
                                                    (Rubem Alves)

quinta-feira, 27 de março de 2014

A UM POETA BRASILEIRO CHAMADO RENATO RUSSO


   Júnior para os familiares, Renato nasceu num dia como hoje, há 54 anos atrás. Dono de uma das mais belas vozes que o Brasil já teve, cantou em inglês e italiano, honrando o sobrenome Manfredini. Mas foi em bom português que ele se imortalizou, quando ainda estava entre nós, nos versos escritos por ele para a fantástica banda de rock Legião Urbana, que ele fundou com o baterista Marcelo Bonfá e que teve na formação até o fim o Villa-Lobos Dado (o guitarrista belga é sobrinho-neto do músico Heitor de mesmo sobrenome) e por três discos o baixista Renato Rocha, vulgo Negrete.
   Apesar do Russo, era bem brasileiro! Apesar de se ver  apenas como letrista, era bem poeta! E apesar de não ser um dançarino, tinha uma dança única nos palcos, que era uma manifestação raivosa, mas também engraçada de se ver! Com seus amigos Dado e Bonfá e sua música urbana para acampamentos, rodou o país inteiro com turnês que sempre enchiam as platéias de legionários! Eu sou um dos muitos que não viveram esse privilégio. Quem me dera ao menos uma vez cantar sem errar aquelas estrofes de Índios!
   Através das músicas, contou que em sua infância sentiu vontade de ir embora no seu primeiro dia na escola, e, ao sair dela, desenhava com giz e tijolo o sol na calçada depois de uma chuva. Tinha professoras com nomes incomuns, como Edilamar e Esperança e fingia ser soldado durante a tarde inteira quando as meninas estavam distantes. Já na juventude, foi um trovador solitário, mas gostava da idéia de ter uma banda, tanto que antes da “carreira-solo”, era integrante da rebelde Aborto Elétrico. Pela falta de gasolina e carro, às vezes, se amarrava em andar a pé na chuva para fugir do tédio com “t” maiúsculo, de quem só sabia quem em Brasília vivia, em meio ao regime da ditadura militar. Falava por horas e horas e horas ao telefone, possivelmente sobre som, com algum punk da Turma da Colina.
   Em sua arte, falou de si próprio com a mesma capacidade que falou dos anseios e angústias dos jovens. Criou como ninguém personagens como Eduardo, Mônica, João de Santo Cristo, Maria Lúcia, João Roberto, Clarisse... Questionou como poucos o Brasil em que moramos e afirmou que o mesmo é o país do futuro! De uma forma perfeita, celebrou com estupidez o lado podre da nossa república e emplacou hits atrás de hits, como as canções sem refrões Faroeste Caboclo e Há Tempos. A genialidade do trio de músicos foi capaz de criar melodias memoráveis como, pra citar algumas: a balada Angra dos Reis, o blues Pais e Filhos, a paradisíaca Vento No Litoral e a valsa Longe Do Meu Lado (que por sinal tem na poesia da letra uma seqüência de quase vinte versos terminados com a mesma sonoridade).
   Mesmo vivendo uma tempestade interna, não deixou de pensar nos mais novos, como em L’Avventura, Aloha, Dezesseis e O Livro Dos Dias. E o que dizer de A Via Láctea, o último sussurro poético de Renato Russo? Até na dor de uma febre ele foi brilhante e forte. Emocionou até os corações não-roqueiros. Dado Villa-Lobos falou em uma entrevista que o seu canto magnífico era capaz de fazer alguém chorar com um simples “Parabéns pra você...”

  
  Renato Russo é pra sempre e, nesse caso, esse pra sempre nunca acaba!



  Desses 54 anos, todos foram feitos pra mim.



  E quem sabe um dia eu escrevo uma canção pra você!



Texto de Brasilino Júnnior, escrito dia 27 de março de 2014, às 05:20pm, em São Luís-MA.


sábado, 15 de fevereiro de 2014

TINGA E O 12º ADVERSÁRIO

Até o último dia 12/02, Tinga não era tão conhecido pelo grande público que não acompanha os noticiários futebolísticos diariamente. Poderia ter sido apresentado a eles de uma forma mais bonita. Craque como ele é, sendo destaque de todos os times pelos quais passou, bem que podia ser com um gol em uma final de campeonato. Daqueles que se repetem exaustivamente nos programas esportivos, de tão lindo e emocionante. Ou, quem sabe, com um drible único e desconcertante no adversário. Capaz de fazer a imagem rodar o mundo e crianças de todos os continentes tentarem reproduzir igual nas peladas com os amigos.
   Mas não. Tinga ganhou notoriedade no Brasil e no mundo por um outro motivo. Bem menos desportivo e mais desumano. Feio e infelizmente, ainda, comum. Seja no futebol ou fora dele. Jogando no Peru, defendendo a camisa do atual campeão brasileiro Cruzeiro, o volante foi obrigado a ouvir da torcida local vozes que imitavam a sonoridade de um macaco, a cada vez que este mantinha a posse de bola. E pensar que ele tocou na bola por várias vezes… Sabe-se lá o que se passava na cabeça dele quando sentia que a bola chegaria novamente a seus pés… Particularmente, torci para que fizesse um gol e calasse, ao menos por instantes, a boca daqueles que se sentem superiores a outros pela tonalidade da pele.
 Há quase dez anos, o mesmo Tinga foi injustiçado ao ser expulso de campo por simular um pênalti. Lembro bem da sua fisionomia ao ver aquele cartão vermelho, era quase de choro! Não era para menos: seu time na época, o Internacional, ficaria com um homem a menos, sem o pênalti para cobrar e, posteriormente a isso, sem o título, devido a esse e outros tantos ” erros” de arbitragem.
   Desta vez, se quisesse, Tinga poderia sair de campo. Tinha razão se assim fizesse. Mas não fez isso. Permaneceu firme até o fim, honrando seu futebol de cabeça erguida. Ao final da partida, foi cercado por repórteres de várias nacionalidades. E em bom português, mostrou seriedade e maturidade ao tratar desse delicado tema que é o racismo, esse mal que continua vivo na sociedade, embora muitos afirmem que ele não existe mais. Televisionado ou visto a olho nu, machuca quem sente, independente se é famoso ou anônimo.
   Tem faltado justiça, por isso aconteceu com o Tinga o que vem acontecendo há décadas com outros jogadores, em outros times, em outros gramados…








Brasilino Júnnior, 15 de fevereiro de 2014, 12:52 am

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

BOLHAS


Levantei com dores horríveis nas pernas neste sábado. Aliás, há algumas semanas tem sido assim. Um dia pior que o outro. Dói durante o meu andar, dói durante o meu parar, antes de deitar e, como agora, ao acordar. Não é exclusivo eu senti-las. Já tive isso quando criança e as dores são realmente as mesmas. É tão íntima em mim que parece que minha infância foi ano passado.
Fiquei inútil por um bom tempo naquela fase: era obrigado a usar calça o dia inteiro para a pele não ficar exposta ao sol e aos olhos alheios, que me enchiam de perguntas para as quais eu não sabia as respostas. Mas, o mais difícil mesmo foi ficar de fora do futebol por sei lá quanto tempo. Improvisava um banco de reservas na calçada e ficava sentado nele assistindo a todas as partidas, torcendo e comentando, com muita vontade de estar ali dentro. Às vezes era tão chato somente ver que eu deixava de lado os lances e me deitava no banco, olhando para o alto, para o céu! Aquelas cicatrizes permaneceram por anos e nem sei se todas realmente foram embora.
   Voltando ao presente, fiz tudo diferente: Demorei a me medicar e tomar outros cuidados, por achar que seria algo passageiro. E o pior, joguei futebol durante todos esses dias, o que agravou a situação em minhas pernas, pois além de correr intensamente nos jogos, vez ou outra caia ou recebia pancadas nas canelas. Amanhecia no dia seguinte todo feliz pelos gols e pelo bom futebol com os caras, porém com dificuldades após o banho para lidar com as dores.
   Meu descuido era tanto que nem percebi que o meu tornozelo direito (o osso) sumiu com o inchaço da pele. Mais parecia um pé daqueles pinguços de carteirinha. Foi a partir daí que a preocupação bateu e eu fiquei realmente triste em me ver naquele estado. Ficou tão feio que não suportava olhar para ele por muito tempo. Batia um desespero por um gelo para pôr em cima. Mas na falta, acabei ficando de molho na cama, repousando o máximo possível. Era um bom momento para me distrair olhando para o céu. Mas no alto só havia telhas.




São Luís, 08/08/2014

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

UMA ENCICLOPÉDIA CHAMADA NILTON SANTOS

   Como cresci lendo a Revista Placar, acabei me familiarizando com os grandes nomes e imagens dos jogadores de futebol do Brasil e do mundo. Tantos os atuais quanto os que já haviam encerrado as suas brilhantes carreiras. Me fascinava ler as histórias de vida de cada cara, que quando se vestiam de craques nos gramados, eram aclamados e respeitados por torcedores, inclusive os rivais.
   Muitos deles, que fizeram parte das seleções campeãs de 58, 62 e 70, recebiam até apelidos por seus feitos. E isso me chamava a atenção, pois estes apelidos me lembravam títulos de filmes, livros...
Amarildo era O Possesso. Pelé, O Rei do Futebol. Garrincha, O Anjo de Pernas Tortas ou A Alegria do Povo. Jairzinho, O Furacão da Copa (de 70). Zico, O Galinho de Quintino. E Nilton Santos, A Enciclopédia do Futebol. Este, era um dos que me chamavam mais a atenção. Como um lateral-esquerdo poderia receber uma perífrase tão interessante? Anos depois, quando passei a ler mais sobre ele em particular e a assistir suas entrevistas é que fui entender o porquê da "Enciclopédia". Era por causa da sua inteligência que constantemente era usada nas jogadas, muitas vezes, para desconsertar o adversário.
   Apaixonado pelo carioca Botafogo, time da Estrela Solitária, a ponto de dedicar todo o seu talento por dezessete anos, demonstrava seu amor em campo e em palavras: " Assinei três contratos em branco, no auge da minha carreira. Era uma prova de amor. Faria tudo de novo. Tudo o que sou devo ao Botafogo. Só vesti duas camisas na vida: a do Botafogo e da Seleção Brasileira." 
   Das histórias de sua época de jogador, as mais marcantes, pra mim, são a da sua influência na contratação de Garrincha e daquela lance antológico, em que ele deu dois passos para fora da área, evitando o juiz de marcar um pênalti contra a Espanha.
  Esse tipo de amor, raríssimo em dias atuais, que se recusa a vestir outro uniforme por uns trocados a mais, vai fazer falta daqui pra diante com sua morte.





"Tu, em campo, 
parecias tantos,
e no entanto,
que encanto! 
Eras um só,
Nilton Santos."

(Armando Nogueira)



Brasilino Júnnior, 28 de novembro de 2013.