Júnior para os familiares, Renato nasceu num dia como hoje, há
54 anos atrás. Dono de uma das mais belas vozes que o Brasil já teve, cantou em
inglês e italiano, honrando o sobrenome Manfredini. Mas foi em bom português
que ele se imortalizou, quando ainda estava entre nós, nos versos escritos por
ele para a fantástica banda de rock Legião Urbana, que ele fundou com o
baterista Marcelo Bonfá e que teve na formação até o fim o Villa-Lobos Dado (o
guitarrista belga é sobrinho-neto do músico Heitor de mesmo sobrenome) e por
três discos o baixista Renato Rocha, vulgo Negrete.
Apesar do Russo, era bem brasileiro! Apesar
de se ver apenas como letrista, era bem
poeta! E apesar de não ser um dançarino, tinha uma dança única nos palcos, que
era uma manifestação raivosa, mas também engraçada de se ver! Com seus amigos
Dado e Bonfá e sua música urbana para acampamentos, rodou o país inteiro com
turnês que sempre enchiam as platéias de legionários! Eu sou um dos muitos que
não viveram esse privilégio. Quem me dera ao menos uma vez cantar sem errar
aquelas estrofes de Índios!
Através das músicas, contou que em sua
infância sentiu vontade de ir embora no seu primeiro dia na escola, e, ao sair
dela, desenhava com giz e tijolo o sol na calçada depois de uma chuva. Tinha
professoras com nomes incomuns, como Edilamar e Esperança e fingia ser soldado
durante a tarde inteira quando as meninas estavam distantes. Já na juventude,
foi um trovador solitário, mas gostava da idéia de ter uma banda, tanto que
antes da “carreira-solo”, era integrante da rebelde Aborto Elétrico. Pela falta
de gasolina e carro, às vezes, se amarrava em andar a pé na chuva para fugir do
tédio com “t” maiúsculo, de quem só sabia quem em Brasília vivia, em meio ao
regime da ditadura militar. Falava por horas e horas e horas ao telefone,
possivelmente sobre som, com algum punk da Turma da Colina.
Em sua arte, falou de si próprio com a mesma
capacidade que falou dos anseios e angústias dos jovens. Criou como ninguém
personagens como Eduardo, Mônica, João de Santo Cristo, Maria Lúcia, João
Roberto, Clarisse... Questionou como poucos o Brasil em que moramos e afirmou
que o mesmo é o país do futuro! De uma forma perfeita, celebrou com estupidez o
lado podre da nossa república e emplacou hits atrás de hits, como as canções
sem refrões Faroeste Caboclo e Há Tempos. A genialidade do trio de músicos foi
capaz de criar melodias memoráveis como, pra citar algumas: a balada Angra dos
Reis, o blues Pais e Filhos, a paradisíaca Vento No Litoral e a valsa Longe Do
Meu Lado (que por sinal tem na poesia da letra uma seqüência de quase vinte
versos terminados com a mesma sonoridade).
Mesmo vivendo uma tempestade interna, não
deixou de pensar nos mais novos, como em L’Avventura, Aloha, Dezesseis e O
Livro Dos Dias. E o que dizer de A Via Láctea, o último sussurro poético de
Renato Russo? Até na dor de uma febre ele foi brilhante e forte. Emocionou até
os corações não-roqueiros. Dado Villa-Lobos falou em uma entrevista que o seu
canto magnífico era capaz de fazer alguém chorar com um simples “Parabéns pra
você...”
Renato Russo é pra sempre e, nesse caso, esse
pra sempre nunca acaba!
Desses 54 anos, todos foram feitos pra mim.
E quem sabe um dia eu escrevo uma canção pra
você!
Texto de
Brasilino Júnnior, escrito dia 27 de março de 2014, às 05:20pm, em São Luís-MA.
“Muito bonito seu texto sobre Renato Russo (Erika Lina, Paraíba do Sul-RJ, via Facebook, 27/03/14);
ResponderExcluir“Mais um ótimo texto, Brasilino! Parabéns! Força Sempre! (Rômulo Serafim, Mata Grande –Al, via Facebook, 27/03/14);
“podia homenagear o Cazuza tbm” (Biancah Moura, São Paulo-SP, via Facebook, 28/03/14);
“Eu acho um máximo quando as pessoas sabem apreciar um artista.” (Nanda Santos, Ananindeua-PA, via Facebook, 28/03/14);
“Gostei ein, ficou muito bom” (Inara Diniz, Boa Sorte- RJ, via Facebook, 28/03/14);
“Eu gostei! Muito bom...” (Ayrna Katrinne, Codó-MA, via Facebook, 28/03/14);
“eu vi! Adorei seu texto! É verdade! Simplesmente adorei, o Dado iria gostar também.” (Biancah Moura, São Paulo-SP, via SMS, 29/03/14);
"Brilhante!!!" (Alexander Gomes, João Pessoa-PB, 27/03/2015, via Facebook)
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