Até
o último dia 12/02, Tinga não era tão conhecido pelo grande público que não
acompanha os noticiários futebolísticos diariamente. Poderia ter sido
apresentado a eles de uma forma mais bonita. Craque como ele é, sendo destaque
de todos os times pelos quais passou, bem que podia ser com um gol em uma final
de campeonato. Daqueles que se repetem exaustivamente nos programas esportivos,
de tão lindo e emocionante. Ou, quem sabe, com um drible único e desconcertante
no adversário. Capaz de fazer a imagem rodar o mundo e crianças de todos os
continentes tentarem reproduzir igual nas peladas com os amigos.
Mas não. Tinga ganhou notoriedade no Brasil
e no mundo por um outro motivo. Bem menos desportivo e mais desumano. Feio e
infelizmente, ainda, comum. Seja no futebol ou fora dele. Jogando no Peru,
defendendo a camisa do atual campeão brasileiro Cruzeiro, o volante foi
obrigado a ouvir da torcida local vozes que imitavam a sonoridade de um macaco, a cada vez que este mantinha a posse de bola. E pensar que ele tocou na bola
por várias vezes… Sabe-se lá o que se passava
na cabeça dele quando sentia que a bola chegaria novamente a seus pés… Particularmente,
torci para que fizesse um gol e calasse, ao menos por instantes, a boca
daqueles que se sentem superiores a outros pela tonalidade da pele.
Há quase dez anos, o mesmo Tinga foi
injustiçado ao ser expulso de campo por simular um pênalti. Lembro bem da sua
fisionomia ao ver aquele cartão vermelho, era quase de choro! Não era para
menos: seu time na época, o Internacional, ficaria com um homem a menos, sem o
pênalti para cobrar e, posteriormente a isso, sem o título, devido a esse e
outros tantos ” erros” de arbitragem.
Desta vez, se quisesse, Tinga
poderia sair de campo. Tinha razão se assim fizesse. Mas não fez isso. Permaneceu
firme até o fim, honrando seu futebol de cabeça erguida. Ao final da partida,
foi cercado por repórteres de várias nacionalidades. E em bom português,
mostrou seriedade e maturidade ao tratar desse delicado tema que é o racismo, esse
mal que continua vivo na sociedade, embora muitos afirmem que ele não existe mais.
Televisionado ou visto a olho nu, machuca quem sente, independente se é famoso
ou anônimo.
Tem faltado justiça, por isso aconteceu com
o Tinga o que vem acontecendo há décadas com outros jogadores, em outros times,
em outros gramados…
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