quinta-feira, 27 de março de 2014

A UM POETA BRASILEIRO CHAMADO RENATO RUSSO


   Júnior para os familiares, Renato nasceu num dia como hoje, há 54 anos atrás. Dono de uma das mais belas vozes que o Brasil já teve, cantou em inglês e italiano, honrando o sobrenome Manfredini. Mas foi em bom português que ele se imortalizou, quando ainda estava entre nós, nos versos escritos por ele para a fantástica banda de rock Legião Urbana, que ele fundou com o baterista Marcelo Bonfá e que teve na formação até o fim o Villa-Lobos Dado (o guitarrista belga é sobrinho-neto do músico Heitor de mesmo sobrenome) e por três discos o baixista Renato Rocha, vulgo Negrete.
   Apesar do Russo, era bem brasileiro! Apesar de se ver  apenas como letrista, era bem poeta! E apesar de não ser um dançarino, tinha uma dança única nos palcos, que era uma manifestação raivosa, mas também engraçada de se ver! Com seus amigos Dado e Bonfá e sua música urbana para acampamentos, rodou o país inteiro com turnês que sempre enchiam as platéias de legionários! Eu sou um dos muitos que não viveram esse privilégio. Quem me dera ao menos uma vez cantar sem errar aquelas estrofes de Índios!
   Através das músicas, contou que em sua infância sentiu vontade de ir embora no seu primeiro dia na escola, e, ao sair dela, desenhava com giz e tijolo o sol na calçada depois de uma chuva. Tinha professoras com nomes incomuns, como Edilamar e Esperança e fingia ser soldado durante a tarde inteira quando as meninas estavam distantes. Já na juventude, foi um trovador solitário, mas gostava da idéia de ter uma banda, tanto que antes da “carreira-solo”, era integrante da rebelde Aborto Elétrico. Pela falta de gasolina e carro, às vezes, se amarrava em andar a pé na chuva para fugir do tédio com “t” maiúsculo, de quem só sabia quem em Brasília vivia, em meio ao regime da ditadura militar. Falava por horas e horas e horas ao telefone, possivelmente sobre som, com algum punk da Turma da Colina.
   Em sua arte, falou de si próprio com a mesma capacidade que falou dos anseios e angústias dos jovens. Criou como ninguém personagens como Eduardo, Mônica, João de Santo Cristo, Maria Lúcia, João Roberto, Clarisse... Questionou como poucos o Brasil em que moramos e afirmou que o mesmo é o país do futuro! De uma forma perfeita, celebrou com estupidez o lado podre da nossa república e emplacou hits atrás de hits, como as canções sem refrões Faroeste Caboclo e Há Tempos. A genialidade do trio de músicos foi capaz de criar melodias memoráveis como, pra citar algumas: a balada Angra dos Reis, o blues Pais e Filhos, a paradisíaca Vento No Litoral e a valsa Longe Do Meu Lado (que por sinal tem na poesia da letra uma seqüência de quase vinte versos terminados com a mesma sonoridade).
   Mesmo vivendo uma tempestade interna, não deixou de pensar nos mais novos, como em L’Avventura, Aloha, Dezesseis e O Livro Dos Dias. E o que dizer de A Via Láctea, o último sussurro poético de Renato Russo? Até na dor de uma febre ele foi brilhante e forte. Emocionou até os corações não-roqueiros. Dado Villa-Lobos falou em uma entrevista que o seu canto magnífico era capaz de fazer alguém chorar com um simples “Parabéns pra você...”

  
  Renato Russo é pra sempre e, nesse caso, esse pra sempre nunca acaba!



  Desses 54 anos, todos foram feitos pra mim.



  E quem sabe um dia eu escrevo uma canção pra você!



Texto de Brasilino Júnnior, escrito dia 27 de março de 2014, às 05:20pm, em São Luís-MA.