sábado, 15 de fevereiro de 2014

TINGA E O 12º ADVERSÁRIO

Até o último dia 12/02, Tinga não era tão conhecido pelo grande público que não acompanha os noticiários futebolísticos diariamente. Poderia ter sido apresentado a eles de uma forma mais bonita. Craque como ele é, sendo destaque de todos os times pelos quais passou, bem que podia ser com um gol em uma final de campeonato. Daqueles que se repetem exaustivamente nos programas esportivos, de tão lindo e emocionante. Ou, quem sabe, com um drible único e desconcertante no adversário. Capaz de fazer a imagem rodar o mundo e crianças de todos os continentes tentarem reproduzir igual nas peladas com os amigos.
   Mas não. Tinga ganhou notoriedade no Brasil e no mundo por um outro motivo. Bem menos desportivo e mais desumano. Feio e infelizmente, ainda, comum. Seja no futebol ou fora dele. Jogando no Peru, defendendo a camisa do atual campeão brasileiro Cruzeiro, o volante foi obrigado a ouvir da torcida local vozes que imitavam a sonoridade de um macaco, a cada vez que este mantinha a posse de bola. E pensar que ele tocou na bola por várias vezes… Sabe-se lá o que se passava na cabeça dele quando sentia que a bola chegaria novamente a seus pés… Particularmente, torci para que fizesse um gol e calasse, ao menos por instantes, a boca daqueles que se sentem superiores a outros pela tonalidade da pele.
 Há quase dez anos, o mesmo Tinga foi injustiçado ao ser expulso de campo por simular um pênalti. Lembro bem da sua fisionomia ao ver aquele cartão vermelho, era quase de choro! Não era para menos: seu time na época, o Internacional, ficaria com um homem a menos, sem o pênalti para cobrar e, posteriormente a isso, sem o título, devido a esse e outros tantos ” erros” de arbitragem.
   Desta vez, se quisesse, Tinga poderia sair de campo. Tinha razão se assim fizesse. Mas não fez isso. Permaneceu firme até o fim, honrando seu futebol de cabeça erguida. Ao final da partida, foi cercado por repórteres de várias nacionalidades. E em bom português, mostrou seriedade e maturidade ao tratar desse delicado tema que é o racismo, esse mal que continua vivo na sociedade, embora muitos afirmem que ele não existe mais. Televisionado ou visto a olho nu, machuca quem sente, independente se é famoso ou anônimo.
   Tem faltado justiça, por isso aconteceu com o Tinga o que vem acontecendo há décadas com outros jogadores, em outros times, em outros gramados…








Brasilino Júnnior, 15 de fevereiro de 2014, 12:52 am

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

BOLHAS


Levantei com dores horríveis nas pernas neste sábado. Aliás, há algumas semanas tem sido assim. Um dia pior que o outro. Dói durante o meu andar, dói durante o meu parar, antes de deitar e, como agora, ao acordar. Não é exclusivo eu senti-las. Já tive isso quando criança e as dores são realmente as mesmas. É tão íntima em mim que parece que minha infância foi ano passado.
Fiquei inútil por um bom tempo naquela fase: era obrigado a usar calça o dia inteiro para a pele não ficar exposta ao sol e aos olhos alheios, que me enchiam de perguntas para as quais eu não sabia as respostas. Mas, o mais difícil mesmo foi ficar de fora do futebol por sei lá quanto tempo. Improvisava um banco de reservas na calçada e ficava sentado nele assistindo a todas as partidas, torcendo e comentando, com muita vontade de estar ali dentro. Às vezes era tão chato somente ver que eu deixava de lado os lances e me deitava no banco, olhando para o alto, para o céu! Aquelas cicatrizes permaneceram por anos e nem sei se todas realmente foram embora.
   Voltando ao presente, fiz tudo diferente: Demorei a me medicar e tomar outros cuidados, por achar que seria algo passageiro. E o pior, joguei futebol durante todos esses dias, o que agravou a situação em minhas pernas, pois além de correr intensamente nos jogos, vez ou outra caia ou recebia pancadas nas canelas. Amanhecia no dia seguinte todo feliz pelos gols e pelo bom futebol com os caras, porém com dificuldades após o banho para lidar com as dores.
   Meu descuido era tanto que nem percebi que o meu tornozelo direito (o osso) sumiu com o inchaço da pele. Mais parecia um pé daqueles pinguços de carteirinha. Foi a partir daí que a preocupação bateu e eu fiquei realmente triste em me ver naquele estado. Ficou tão feio que não suportava olhar para ele por muito tempo. Batia um desespero por um gelo para pôr em cima. Mas na falta, acabei ficando de molho na cama, repousando o máximo possível. Era um bom momento para me distrair olhando para o céu. Mas no alto só havia telhas.




São Luís, 08/08/2014